Ocorreu em Walkerton uma cidade canadense, em 2000, uma enchente que contaminou as fontes de água potável da cidade com agentes patogênicos onde cerca de 2.300 pessoas desenvolveram uma infecção intestinal grave, com consequência de uma síndrome irritável crônica intestinal em muitos desses indivíduos. Durante oito anos de estudo, pesquisadores da Universidade de MCMaster estudaram essa população e notaram alguns problemas psicológicos, como ansiedade e depressão relacionados a essa síndrome irritável crônica intestinal.
Desta forma, o grupo McMaster começou a procurar respostas em ratinhos. Em 2011 transplantaram diferentes espécies de microbiota em camundongos e esse procedimento mostrou características comportamentais específicas para cada tipo de bactéria transplantada, onde ratos relativamente tímidos apresentaram um comportamento mais exploratório ao receberem microbiota de ratos mais aventureiros. Em outra pesquisa, bactérias fecais de seres humanos com síndrome irritável crônica intestinal e ansiedade foram transplantadas em ratos, isto por sua vez, induziu um comportamento de ansiedade. Esses estudos em animais mostraram que as bactérias intestinais podem influenciar no comportamento e alterar a neuroquímica do cérebro.
Ainda no ano de 2011, o imunologista Sven Pettersson e neurocientista Rochellys Diaz Heijtz, realizaram testes em laboratório e verificaram que ratos livres de bactérias eram menos ansiosos do que os ratos portadores de microbiota.
A relação entre o cérebro e o intestino ainda não está clara, mas cientistas estabelecem algumas explicações sobre a ação do intestino no cérebro e comportamento:
- As células intestinais produzem uma grande quantidade de serotonina, e essa substância é um neurotransmissor que pode exercer efeitos de sinalização no cérebro;
- As bactérias presentes no intestino podem alterar o sistema imune e influenciar a produção de citocinas, o que pode propiciar efeitos neurofisiológicos.
- As bactérias intestinais podem produzir certas substâncias, como o butirato, que alcança a corrente sanguínea e atua na barreira hemato-encefálica.
Os cientistas relacionam essas interações com o comportamento, no entanto nada ainda está definitivamente comprovado. Diversos pesquisadores têm estabelecido ligações entre problemas gastrointestinais e neurológicos psiquiátricos, como ansiedade, depressão, autismo, esquizofrenia e doenças neurodegenerativas, mas essa relação ainda está sendo elucidada. Nos seres humanos, os dados são mais limitados e estudos têm sido desenvolvidos, como o da neurocientista Rebecca Knickmeyer da University of North Carolina School of Medicine, em Chapel Hill; seu projeto é parte de um esforço conjunto pra verificar em crianças a relação dos micróbios intestinais com o desenvolvimento cerebral.
Fonte: Nature, 2015.